HARRY'S BAR
Calle Vallaresso, 1323
Veneza - Itália
Poderia virar as costas para aquele lugar, achando que fui muito mal atendida. Mas interpretei o jeito que o garçon me atendeu ao oferecer aquele pequeno estofado entre o caixa e a porta de saída, como sendo a única opção viável no momento.
A idéia era provar o drink mais famoso de Veneza, o Bellini, feito no lugar aonde ele tinha sido criado entre 1934 e 1948 por Giuseppe Cipriani, misturando purê de pêssego com Prosecco.
Sabia que o hotel que escolhi ficava perto, mas não imaginava o quanto. Quando perguntei ao concierge o caminho, ele deu um sorriso como se eu fizera a pergunta mais tola e descreveu os passos a serem seguidos por mim, riscando o mapa da cidade.
Era realmente muito perto. Mas a entrada era muito discreta, passei direto, cheguei à beira do canal, olhei para os lados e virei-me para trás. O nome da rua não estava correto, havia a troca de uma letra, talvez num italiano muito antigo. Ainda perdida voltei pelo mesmo caminho, quando observei algumas pessoas entrando por uma pequena porta e sim, estava lá o seu nome: Harry's Bar.
Empurrei aquela porta e foi quando se abriu para mim um espaço barulhento pelo falatório de pessoas bem vestidas de meia idade, moradores locais, alguns acomodados em mesas à direita e muitos outros amontoados à frente do bar, à esquerda. Havia um recepcionista que poderia ser facilmente confundido com um freguês pela informalidade de suas roupas mas que com gestos educados perguntou o que eu queria. Respondi que gostaria de provar o Bellini. Ele então olhou para o balcão e, por falta de lugar, me ofereceu um estofado de cor marrom que ficava entre a porta de saída e o caixa, debaixo de uma prateleira onde eram demonstrados souvenirs e livros de receitas e que poderia suportar duas pessoas sentadas. Aceitei. Os móveis de madeira, antigos, deixavam escuro o ambiente. Sentei-me e esperei.
Depois de um tempo o homem que me recepcionou entregou-me um copo alto com uma bebida gelada de cor salmão e muito saborosa. Observei que outros também bebiam o mesmo drink. De pé, no balcão. É costume os moradores de Veneza se encontrarem para um spritz no final da tarde.
Estava só, numa situação meio delicada sentada naquele lugar improvisado. Me sentia deslocada, num país estranho, com pessoas estranhas, mas o que importava para mim naquele momento era o Bellini e não teria outro dia para voltar. Então me concentrei naquela bebida e saboreei cada gota, admirando sua cor através do copo de vidro. Ao meu lado, a mulher do caixa sorria sempre que olhava pra mim. Ao terminar, entreguei o copo à ela e pedi a conta. Sem gorjeta, sem "coperto".
Santo Bellini!
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